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terça-feira, 29 de março de 2011

CRÔNICAS DE MIM MESMO - MULHER E A MARVADA

  • MULHER E A MARVADA -CRÔNICA

- Ou ela ou eu – disse Germana, toda metida no seu vestidinho de palha, no seu figurino Ronaldo Fraga de bananeira.

O pobre do cachaceiro ficou passado, perplexo no seu zarolhismo a 45º de graduação alcoólica.

Arrastá-lo dos bares era um serviço humanitário tão comum à patroa quanto lavar roupa suja ou discutir a relação envelhecida em barris de estrago.

Mas naquele dia tudo seria diferente. Deparou-se logo com a birra da empalhada, que reivindicava, no mínimo, mais gratidão do cachaceiro a quem tanto manguaçara.

- Ou ela ou eu - disse de novo, botando fogo pelas ventas.

Sem permitir a réplica feminina, incendiou mais ainda o ambiente, a Mercearia São Pedro, diga-se, ali no alto da vila Madalena:

- Cansei de te derrubar em colo de vagabunda...

Embora muito educada, uma fofa, a patroa não suportou a humilhação:

- Você está acabando com a vida desse infeliz... Repare só o farrapo humano que virou.

- Ah, minha santa, a graça desse bofe sou eu, Bovary ces´t moi. Dou-lhe verve, ânimo, o luxo da coragem, mato-lhe a timidez e os assombros...

- Desalmada, destruidora de lares, você acaba com o que sobra desse infeliz...

Marquinhos abaixa o portão de ferro.

E a peleja continua:

- O que acaba com essa criatura é a tua rabugice, a tua carranca, já te viste no espelho quando acordas? Que cabelo é aquele, dona?

- Pois saiba que esse desalmado acorda te maldizendo, numa ressaca miserável, sempre como aquele corvo, never more, never more, never more...

- Quando se recompõe volta aos meus caprichos... É um doente por mim, queres devoção maior?

- Eu sou a cura...

- Tu és mesmo um banho frio, sem alma, bálsamo chinfrim... És tão sólida na vida dele quanto um Sonrisal...

- És a ruína desse infeliz...

- Apenas não desejo que ele morra cheio de saúde... Já pensou que triste?

- Cínica.

- Gorda.

- Invejosa, enquanto dás a queda eu dou um colo macio e reconfortante...

- Se ele erra o prumo de casa é por conta da tua feiúra...

- Mas nunca errou o buraco da fechadura...

As duas se engalfinham. A mercearia vem abaixo. Marquinhos levanta o portão de ferro. O sol por testemunha de mais uma peleja entre a mulher e a cachaça. Ah, por isso que eu não quero que me faltem essas danadas. Tão passionais, tão iguais, tão donas das nossas quedas e baques.

Escrito por Xico Sá às 23h00

Um comentário:

Marcus Alencar disse...

Achei muito interessante esse conto e a forma como ele dá um olhar diferente para uma questão tão séria e ao mesmo tempo comum que é o alcoolismo.
abcs

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